Trago uma curiosidade! Alguns meses após ter sido aprovado no Vestibular Fuvest 1999 para o curso de Música - Bacharelado em Instrumento (Violão) no Departamento de Música de São Paulo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), recebi carta pedindo minha autorização para divulgar minha redação na Internet por estar entre algumas dezenas das melhores. Naturalmente aceitei e foi publicada. Curioso que eles publicaram todas as melhores redações digitalizando os manuscritos, todos apócrifos. Para facilitar a leitura transcrevo aqui a minha redação (é claro que é um texto escrito sob pressão e com a finalidade de ser aprovado, portanto muitas das minhas opiniões já na época não eram exatamente essas e hoje mais ainda... mas mesmo assim vale como "documento histórico"). Pra quem preferir decifrar a escrita do autor, eis o link para o manuscrito: http://www.fuvest.br/vest1999/provas/2fase/redac/rd526317.gif
Redação FUVEST 1999 nota dez:
Netos da contracultura
A geração brasileira que hoje está saindo da adolescência, entrando para a universidade ou no mercado de trabalho, traz a marca da despolitização, da indecisão e do individualismo. Viveram na infância uma conturbada década de 80 espantada com a derrocada do comunismo e o fim da Guerra Fria. Atravessaram, já adolescentes, os anos 90 em que o fantasma do HIV paira sobre o comportamento, os EUA se consagram centro do mundo e o neoliberalismo se multiplica pelos continentes.
Nossos futuros dirigentes culpam os políticos pela situação atual. Gilberto Dimenstein, jornalista da Folha de São Paulo, em coluna recente aponta o cinismo com que os jovens observam a política, para eles quase completamente corrompida, extensível a seus próprios comportamentos. O dever de levar vantagem foi instituído.
O conformismo associado à falta de consciência crítica da sociedade leva a juventude a não vislumbrar seu próprio futuro. A indecisão quanto a suas metas e objetivos chega ao ponto do reitor da Universidade de São Paulo, Jacques Marcovitch, em carta aos candidatos constante no manual da FUVEST, apelar à responsabilidade social dos ingressantes de concluir o curso escolhido, em vista das altas taxas de desistência na referida instituição.
A banalização da violência, alimentada por uma mídia descontrolada e descompromissada com a educação, é outro dado alarmante na composição do perfil de nossos jovens. Manifesta-se tanto entre os filhos da classe média ou alta, com sua violência gratuita (É brincadeira atear fogo em mendigos e índios), quanto entre os jovens pobres de periferias e favelas, que morrem nas guerras do tráfico de drogas.
Instituiu-se também a estética da publicidade. "Popstars" dominam o imaginário juvenil, destituído de conteúdo social mais profundo. A arte foi infestada pela mediocridade infecunda alienando ainda mais os jovens. Educação artística básica ainda é o único remédio possível.
Oscar Wilde caracterizou o materialista como o sujeito que sabe o preço de tudo mas não dá valor a nada em oposição ao sentimentalista, que dá valor a tudo mas não sabe o preço de nada. A atual juventude brasileira enquadra-se seguramente como materialista. Enquanto seus pais, filhos da contracultura, organizavam passeatas contra a ditadura, os jovens de hoje fazem "greve" contra os altos preços dos provedores de acesso à Internet.
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